Psicólogos que mantêm lista de espera sem encaminhar estão errados

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Psicólogo que não atende nem encaminha abandona o paciente em sofrimento. Lista de espera não é lugar pra dor, mas covardia clínica disfarçada de ética.

Psicólogos que mantêm lista de espera sem encaminhar estão errados

Sim, psicólogos que mantêm pacientes em lista de espera sem oferecer encaminhamento estão profundamente errados.

Essa prática, apesar de comum, é eticamente reprovável e emocionalmente perigosa. O paciente que busca ajuda está, na maioria das vezes, fragilizado, vulnerável, e em risco.

Deixar essa pessoa esperando, sem alternativa, é virar as costas para o sofrimento. E isso não é só uma falha técnica: é uma omissão que pode custar caro.

A função do psicólogo não é alimentar fila de espera como sinal de prestígio, mas sim garantir que ninguém fique sem suporte.

Se você ler este artigo até o fim, vai entender:

  • Por que essa prática fere a ética e o bom senso clínico;
  • Como o silêncio e a inércia do psicólogo podem agravar a dor do paciente;
  • Quais são as alternativas viáveis para quem não pode atender de imediato;
  • E como transformar a clínica em um espaço de responsabilidade, e não de vaidade.

1. Cadê a responsabilidade ética?

Sim, é antiético deixar uma pessoa sofrendo em lista de espera sem oferecer ajuda ou encaminhamento.

O psicólogo, ao fazer isso, parece não ver a urgência de quem pede socorro. É como se dissesse: “aguente firme aí com a sua dor, que quando eu tiver tempo, a gente conversa“.

Isso não é cuidado. Isso é descaso. É preciso dizer com todas as letras: o profissional que não atende nem encaminha está sendo cúmplice do agravamento do sofrimento psíquico daquele ser humano.

Quando alguém procura um psicólogo, normalmente já passou por um monte de obstáculos: vergonha, medo, falta de dinheiro, falta de apoio. Chegar até um consultório já foi um esforço danado.

Aí, ao invés de acolhimento, a pessoa ouve: “no momento não posso te atender, mas vou colocar seu nome numa lista“. E essa lista, muitas vezes, vira um limbo emocional, onde a pessoa fica presa, sem saber se deve esperar, procurar outro, ou desistir.

O que o psicólogo deve fazer quando não tem vaga:

SituaçãoConduta ética
Não há horário disponível na agendaInformar claramente e com empatia
Lista de espera acima de 2 semanasSugerir encaminhamento
Percepção de sofrimento intenso no pacientePriorizar ou redirecionar imediatamente
Rede de colegas disponívelIndicar outros profissionais com urgência

Essa lógica é simples: ética não é sobre parecer bom, é sobre fazer o bem. Quando o psicólogo se recusa a tomar providências concretas diante de uma pessoa em sofrimento, está usando a ética como enfeite.


2. O sofrimento psíquico não fica em standby

Não, o sofrimento psíquico não deve ser colocado em modo espera, como se fosse uma encomenda atrasada ou uma ligação que pode aguardar.

Quando uma pessoa busca ajuda psicológica, ela está muitas vezes no limite do suportável. A dor que ela carrega não faz pausa porque a agenda do psicólogo está cheia.

Se o profissional diz que não pode atender no momento, ele tem a obrigação de orientar, acolher e encaminhar. Porque quem sofre, sofre agora. Não semana que vem. Não mês que vem.

É fácil esquecer disso quando se está do lado de cá da poltrona, com ar-condicionado, jaleco passado e diploma na parede.

  • Uma crise de ansiedade pode virar um surto;
  • Uma depressão leve pode se transformar em ideação suicida;
  • Um sentimento de abandono pode se cristalizar em desistência total.

E o que o psicólogo faz? Diz “eu te coloco na lista e, quando surgir uma vaga, eu te chamo“. Sério? Enquanto isso, a pessoa vai afundando no próprio desespero? Isso não é cuidado. Isso é omissão.


3. Lista de espera sem encaminhar é monopolizar dor

Sim, manter um paciente em lista de espera sem oferecer encaminhamento é uma forma de monopolizar o sofrimento alheio.

É prender a dor do outro e jogar fora a chave, como se ela só pudesse ser cuidada por você.

Psicólogo não é dono da dor de ninguém. Quando alguém procura ajuda, tem o direito de ser orientado a encontrar outro profissional caso você não possa atendê-lo.

Vamos dar nome às coisas: isso é ego profissional. É a ideia de que só você sabe cuidar, só você tem o “jeito certo”, e por isso o paciente deve esperar, mesmo sofrendo.

Muitas vezes, ele nem procura outro profissional porque confia naquele que prometeu a tal vaga futura. Ou seja, você, psicólogo, virou o obstáculo entre o paciente e a ajuda que ele precisa.

Diferença entre acolher e reter:

AtitudeResultado
Encaminhar com empatiaO paciente se sente valorizado e protegido
Reter sem previsãoGera ansiedade, insegurança e sensação de rejeição
Informar com clarezaAjuda o paciente a tomar decisões com autonomia
Prometer sem dataCausa dependência, frustração e agravamento da dor

A lógica aqui é direta: se você não vai cuidar agora, ajude quem pode cuidar. Não é seu papel decidir quando o outro pode começar a se curar.


4. Transformar sofrimento em estratégia de marketing é cruel

Sim, é cruel e até perverso usar uma lista de espera como sinal de prestígio profissional.

Quando o psicólogo começa a exibir o tamanho da fila como se fosse troféu de competência, ele deixa de cuidar de pessoas para cuidar da própria imagem. A dor do outro vira número. Vira status. Vira publicidade.

A lógica desse tipo de profissional é simples (e nojenta): “se eu tiver uma lista cheia, vão achar que sou bom“. Então ele acumula nomes, retém pacientes, atrasa atendimentos, só para parecer disputado.

  • Exibir lista de espera como forma de autopromoção é uma infração ética segundo diversos conselhos profissionais.
  • A OMS considera a falta de acesso rápido a cuidados psicológicos como um dos fatores de agravamento de transtornos mentais.
  • Marketing na Psicologia deve ser informativo e ético, nunca baseado em escassez forjada ou dor acumulada.
  • Instrumentalizar pacientes como prova social de sucesso é violar o princípio de dignidade humana.

A lógica é essa: quando o marketing se sobrepõe ao cuidado, o psicólogo troca a escuta pela vitrine.

Quantos estão na fila? Quantas pessoas ele rejeitou porque “não deu tempo”? Tudo isso vira parte de uma narrativa inflada que mais parece propaganda de Black Friday: “Meus horários estão esgotados! Entre na lista!“, como se isso fosse conquista.


5. Quem se cala, consente com o adoecimento

Sim, o silêncio de um psicólogo diante do sofrimento de alguém que pede ajuda não é neutralidade, é abandono.

Quando o profissional diz “não posso te atender agora” e simplesmente encerra a conversa ali, sem indicar outro profissional, sem orientar o que fazer, está consentindo com a piora daquele sofrimento.

O silêncio, nesse contexto, não é vazio. Ele pesa. Ele fere. Ele faz a pessoa sentir que sua dor não é válida, que seu pedido de ajuda foi ignorado, que o mundo confirmou aquilo que ela já teme: que está sozinha.

E quando isso vem de um psicólogo (alguém que supostamente deveria compreender o impacto do desamparo), o estrago é ainda maior. A omissão não é ausência de resposta, é resposta negativa com verniz educado.

Silêncio x acolhimento real:

ComportamentoImpacto
Diz que não pode atender e encerra o contatoSensação de rejeição, abandono emocional
Informa, orienta e indica alternativaSensação de cuidado, valorização e esperança
Mantém silêncio após contato inicialGatilhos de desistência e isolamento
Encaminha com empatia e rapidezFortalecimento do vínculo com a profissão

A lógica é simples e dura: quando você tem o poder de orientar alguém em dor e escolhe não fazer isso, está aceitando que esse alguém piore. O silêncio se torna parte do problema.

E assim encerro esta crítica. Mas ela não é um ponto final, é uma convocação. O sofrimento não deve continuar sendo tratado como fila de banco ou métrica de vaidade.

Se você é psicólogo, o mínimo é fazer o básico: encaminhar. Porque se você não serve pra escutar nem pra orientar, talvez seja hora de rever se ainda serve pra clínica.


Perguntas frequentes

  1. Posso manter uma lista de espera sem oferecer alternativa?
    Não. Você tem o dever ético de encaminhar ou orientar o paciente. Deixá-lo parado, sem previsão e sem opção, é negligência.
  2. Por quanto tempo posso manter alguém na lista de espera?
  3. O mínimo possível. Se passar de 15 dias, já é hora de sugerir outro profissional ou serviço.
  4. Se o paciente quiser esperar, posso manter assim mesmo?
    Pode, mas com aviso claro. Diga que a vaga pode demorar e ofereça outra opção para que ele escolha com autonomia, não por desespero.
  5. E se eu não conhecer nenhum colega pra encaminhar?
    Então você tem que começar a conhecer. Ter uma rede de contatos confiável faz parte do seu trabalho.
  6. Mas e se eu não tiver tempo nem pra indicar alguém?
    Se não tem tempo pra indicar, não tem tempo pra cuidar. Você não está apto a receber esse paciente agora. A ética exige prioridade à vida do outro.
  7. Um grupo terapêutico temporário pode ser uma solução?
    Sim, se for estruturado e supervisionado. Mas não é desculpa para empurrar com a barriga. É uma medida paliativa com prazo e objetivo claros.
  8. Posso cobrar para fazer o encaminhamento?
    Não. Encaminhar é obrigação, não serviço extra.
  9. É antiético divulgar que tenho lista de espera nas redes sociais?
    Sim, se for pra autopromoção. Dor não é currículo. Anunciar fila pra parecer famoso é marketing cruel.
  10. E se eu estiver em licença ou afastamento?
    Deixe isso claro no primeiro contato e oriente o paciente a procurar outro profissional.
  11. Posso recusar o encaminhamento se achar que só eu posso ajudar aquele paciente?
    Não. Isso é ego disfarçado de zelo. Existem outros profissionais capacitados.
  12. Devo perguntar ao paciente se ele quer ser encaminhado?
    Sim. Mas também oriente, mostre caminhos, não jogue a escolha no colo dele como quem se livra do problema.
  13. Posso indicar um serviço público de saúde mental?
    Pode e deve, se for o mais rápido e acessível. Desde que seja feito com empatia e respeito.
  14. E se o paciente não quiser outro profissional?
    Explique os riscos da espera e documente isso. Mas continue oferecendo alternativas até que ele tome uma decisão consciente.
  15. Um psicólogo pode manter lista de espera apenas para “casos que gosta de atender”?
    Não. Isso é elitismo clínico disfarçado de especialização. Todo sofrimento merece acolhimento.
  16. Qual a frase que um psicólogo nunca deve dizer?
    Sinto muito, mas não posso te atender agora. Boa sorte.“. Se você disser isso e parar por aí, está jogando o paciente num abismo.

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